segunda-feira, 15 de novembro de 2010

ENVELHECIMENTO HUMANO


ENVELHECIMENTO HUMANO


Por: Silvia Damini

Aos 65 anos é a entrada para a terceira idade, a última fase da vida. Entretanto, muitos adultos aos 65 anos, ou mesmo aos 75 ou 85, não se sentem ou agem como “velhos”. As diferenças individuais tornam-se mais pronunciadas nos últimos anos. “Use para não perder” - torna-se o mandato urgente tanto para no plano físico quanto no cognitivo.

A maioria dos idosos desfruta de boa saúde física e mental, e, embora algumas habilidades possam diminuir, as pessoas física e intelectualmente ativas podem manter-se muito bem, na maioria dos aspectos, e até mesmo melhorar sua competência. O funcionamento físico e cognitivo tem efeitos psicossociais, muitas vezes, determinando o estado emocional do idoso e a capacidade de viver de maneira independente.

É habitual que falemos do desenvolvimento humano sem fazer qualquer menção a outro processo de complexidade idêntica que é o envelhecimento, e que faz parte do desenvolvimento humano. O desenvolvimento e o envelhecimento humano partilham algo de comum: ambos são processos que mantêm relações íntimas com a passagem do tempo. Um é geralmente conotado com um progresso positivo; outro é muitas vezes conotado com um processo negativo.

O envelhecimento aí está, sempre, a ameaçar a nossa mente de que o tempo têm limites, que os projetos têm limites ou constrangimentos, que a eternidade não existe possivelmente em nenhum aspecto da vida. Bastaria, talvez, uma consciência apurada deste dado para podermos afirmar, com naturalidade, a transitoriedade e simultaneamente a natureza dinâmica e desenvolvimental dos fenômenos "vitais".

Nada fica ou permanece na mesma, com o decurso do tempo, desde o nosso corpo, à nossa mente, às árvores dos jardins, às relações, aos amores e às raivas, etc. Com efeito, a consciência individual de que o ciclo de vida é marcado pelo tempo e tem limites temporais, pressiona cada um a ser uma entidade ativa, selecionando objetivos a cumprir ou obras a realizar, otimizando o seu desempenho e compensando, sempre que necessário, os objetivos não alcançados ou os métodos menos eficazes. Por outro lado, estes processos de seleção, otimização e compensação são realizados para construir a coerência e o significado possíveis no ciclo de uma vida e num segmento da história humana de uma dada cultura.

Dito por outras palavras, são os limites temporais de cada vida e, também, a natureza temporal de todas as tarefas que, paradoxalmente, criam condições aos organismos para se desenvolverem e evoluírem, ativando as escolhas de trajetos e objetivos, aperfeiçoando-os e reformulando o seu valor. E esta evolução ou, mesmo, esta pressão evolutiva, ocorrem independentemente da idade de cada um; aquilo que se perde quando se ganha e o que se ganha quando se perde não é substancialmente diferente na juventude e até idades avançadas. Em qualquer idade os ganhos e as perdas coexistem numa proporção não muito diferente. O que importa sempre é o potencial de energia residente que nos permite continuar a selecionar, a otimizar e a compensar.

São estes três processos que nos permitem afirmar de uma forma mais positiva o envelhecimento ou a mera passagem do tempo e tratá-lo como uma questão de desenvolvimento humano até longa idade, até os sistemas de energia humanos não colapsarem por completo.

Contudo, conseguir viver não é uma tarefa simples e exige que uma série de elementos interajam para se poder obter desses anos de vida uma vivencia marcada pela qualidade. É preciso acabar com estereotipias relativas ao processo do envelhecimento, pois como em cada etapa da vida existem possibilidades de se ter uma vida saudável; e não sinônimo de doença. Por isso, é preciso propiciar atividades participantes das atividades como em qualquer fase da vida.

O envelhecimento é um processo que envolve multidimensões que se inter-relacionam. Entre elas estão os aspectos biológicos, psicológicos, sociais e de novas situações de vida. O envelhecer precisa ser visto como possibilidade de realização pessoal, maturidade e sabedoria. A crença de que idosos não são capazes de coordenar suas vidas, de terem objetivos de vida, capacidade para aprender e para mudar, contribui para que se desenvolvam sentimentos de impotência nos idosos, muitas vezes os levando a acreditar nisso. Na velhice, à medida que os anos passam, muda-se a forma de perceber o mundo, pois valores se modificam. Há uma enorme dedicação e “apego” a espiritualidade.

Acredito ter sido Cícero, uma pessoa brilhante ao ter rebatido que a velhice afasta da vida ativa, de que ela torna o ser humano mais frágil em todos os aspectos, que priva de todos ou dos melhores prazeres. Pois a vida continua, e ela pode proporcionar momentos brilhantes, enriquecidos, principalmente se os idosos tiverem espaços, atividades e não forem vítimas de preconceito. É claro, que algumas implicações virão a ter, por exemplo: o vigor físico não será o mesmo de quando se tem 20 anos, mas tudo pode se adaptar em busca de uma melhor qualidade de vida. Também “nunca é tarde para abandonar maus hábitos e nunca é cedo demais para adotar práticas saudáveis”.

“Por que não encarar estes novos anos de vida em termos de continuação ou criação de novos papéis na sociedade, outro estágio de crescimento e desenvolvimento pessoal ou mesmo espiritual?” (Betty Friedan, The Fountain of Age, 1993).

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