segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

CÂNCER E DEPRESSÃO

Por : Silvia Damini

Sabe-se que as exigências sociais e psicológicas estão, cada vez mais, associadas ao desenvolvimento do câncer. Dois principais fatores podem estar relacionados a um risco aumentado do câncer: primeiramente, a perda de uma relação importante (frequentemente pai, mãe, filho ou cônjuge) e, em segundo, uma grande inabilidade em expressar sentimentos (hostis, irritáveis, etc.) ou uma liberação inadequada da emoção.

Entre esses sentimentos de perda de relações, o luto parece desempenhar papel preponderante. Publicações estabelecem relações entre sentimentos de perda, vergonha, desesperança ao surgimento de linfomas, leucemia e outros tipos de câncer. Sentimentos tais como a perda de uma relação significativa, a incapacidade de expressar sentimentos hostis, uma importante tensão em relação a uma figura parental, sentimentos de desamparo e de desesperança, frequentemente, se associam ao surgimento do câncer.

Os fatores psicossociais de risco no desenvolvimento do câncer, segundo alguns autores, distinguem-se em indiretos e diretos: os Fatores Indiretos (psíquicos) são definidos como as atitudes psicossociais da pessoa que conduzem à probabilidade de câncer aumentada, dependendo pois, dos traços de sua personalidade e da maneira de reagir à vida, relativamente independente dos estressores do cotidiano. Já os Fatores Diretos (sociais) seriam os estressores psicossociais propriamente ditos, que induzem as reações psicológicas que podem conduzir aos transtornos físico-imunológicos do organismo.

Uma das principais investigações em relação aos fatores de risco psicossocial na mortalidade por câncer, foi realizado por Grossarth et al.(1985). Ele procurou corroborar um estudo anterior de Kissen (1963). Esse autor postulou que os pacientes com câncer de pulmão apresentavam uma típica tendência a suprimir suas emoções e seus conflitos. Por causa disto eles teriam uma saída muito dificultada para a descarga emocional.

Na trajetória do câncer, a ansiedade se manifesta precocemente, mesmo durante os diversos momentos do diagnóstico. Depois, continua durante o tratamento e pós-tratamento. Sabe-se, que a ansiedade pode comprometer significativamente o sucesso do tratamento. Portanto, atender às questões emocionais do paciente corresponde a melhorar substancialmente o tratamento clínico.

Os pacientes podem começar a experimentar ansiedade moderada ou severa, enquanto esperam os resultados dos exames de diagnóstico. Para os pacientes que estão recebendo o tratamento, a ansiedade também pode aumentar a possibilidade de sofrer mais dor, bem como uma série de outros sintomas, desde a angústia e depressão, até as incoercíveis náuseas e vômitos agravados pelas emoções.

Tem-se demonstrado que a ansiedade independentemente de seu grau, pode reduzir substancialmente a qualidade de vida dos pacientes e de suas famílias, podendo ainda favorecer a morte prematura. Assim sendo, a atenção terapêutica da ansiedade é umas das medidas fundamentais durante o tratamento do câncer.

A ansiedade, como atitude psico-fisiológica, pode ser parte da adaptação normal da pessoal à sua doença. Na maioria dos casos, as reações de ansiedade mais intensas são limitadas no tempo (circunstancias) e acabam sendo até benéficas, no sentido de motivar pacientes e familiares a procurar medidas de alívio, como por exemplo, obter mais informações sobre os benefícios do tratamento, novas atitudes diante da vida, etc. Entretanto, as reações de ansiedade que se prolongam por muito tempo ou são muito intensas podem comprometer a adaptação. Nesses casos, elas se classificam como Transtornos de Ajustamento.

Estes transtornos podem comprometer a qualidade de vida e dificultar a capacidade de funcionamento social e emocional do paciente com câncer. Nessa fase, a ansiedade requer intervenção terapêutica. Os pacientes com câncer podem manifestar alguns outros transtornos de ansiedade, como por exemplo: Transtorno de Ajustamento; Transtorno de Pânico, Transtorno fóbico-ansioso. Transtorno Obsessivo-complusivo, Transtorno de Estresse Pós-traumático, Transtorno de Ansiedade Generalizada.

Outra atitude importante no cuidado de paciente com câncer é, exatamente, saber reconhecer quando eles necessitam de tratamento para depressão. Basicamente, todos os pacientes com câncer sentem tristeza e pesar de forma periódica durante alguma fase de sua doença, seja no diagnóstico, durante o tratamento e/ou depois dele. Inicialmente, quando se comunica ao paciente que ele tem câncer, a primeira reação emocional é de descrença, rejeição ou desespero. Nessa fase ele pode ter problemas de insônia, perder o apetite, sentir-se angustiado e estar preocupado com o futuro. Esses sintomas podem diminuir conforme, a pessoa vai se acostumando com o diagnóstico.

Um dos sinais importantes de que a pessoa tem melhor aceitação de sua doença é a manutenção de sua capacidade para continuar participando das atividades diárias e sua habilidade para continuar cumprindo o seu papel social, de cônjuge, pai, mãe, funcionário, etc, incorporando as sessões de tratamento em seu esquema de vida cotidiano. As pessoas que demoram muito em aceitar o diagnóstico e que perdem o interesse em suas atividades diárias podem estar sofrendo de depressão.

Uma preocupação importante é em relação aos pacientes que não demonstram sintomas óbvios e típicos de depressão. Esses terão uma serie de manifestações emocionais patológicas não só extremamente molestas, como também, capazes de inferir negativamente na evolução do tratamento.

Tanto os indivíduos como os familiares que enfrentam um diagnóstico de câncer experimentam diversos níveis de estresse e de perturbação emocional. O medo da morte, alteração dos planos de vida, mudanças na imagem corporal, abalo na auto-estima, mudança na situação social e no estilo de vida, assim como preocupações econômicas e ocupacionais são assuntos importantes na vida de qualquer pessoa com câncer.

Existem muito mitos sobre o câncer e de maneira como as pessoas o enfrentam. Alguns desses mitos seriam, por exemplo: todas as pessoas com câncer estão deprimidas; a depressão numa pessoa com câncer é normal; os tratamentos antidepressivos não ajudam a depressão no câncer. A psicoterapia de apoio é um tratamento eficaz para recupera a auto-estima e ameniza o sofrimento de pacientes com câncer submetidos à cirurgia. Além de trabalhar os fatores psicológicos, a psicoterapia de apoio contribui para esclarecer dúvidas e quebrar alguns mitos e estigmas que envolvem a doença. Em geral, o paciente quer saber quais são as chances de cura e os riscos que a cirurgia oferece. É um tratamento emergencial, que ajuda a combater o medo e a angústia antes e depois da operação.


segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

ESTABELECENDO LIMITES

ESTABELECENDO LIMITES

Por: Silvia Damini

A educação de uma criança é algo desafiador. Constitui-se em uma teoria muito difícil e complexa, pois é necessário atravessar algumas fases críticas do desenvolvimento. As mesmas normas ou os mesmos comportamentos não servem para todas. Cada uma tem a sua realidade, sua personalidade e sua individualidade.

O afeto é essencial na educação dos filhos, mas é preciso que os limites façam parte dessa realidade. Sabe-se que tratar afetuosamente os filhos, com base na confiança, respeito e diálogo é uma das melhores maneiras de corrigir seus erros. Estabelecer limites pode não ser tarefa fácil, mas é através deles que é ensinado à criança o respeito, a compreensão, a tolerância, enfim, regras que permitirão uma boa convivência com as pessoas.

As regras dever ser claras, objetivas e coerentes. Uma criança agirá de forma disciplinada quando está bem consigo mesmo, quando sua maneira de ser é respeitada, quando seus limites são esclarecidos, clara e firmemente, e quando seu bom comportamento é reconhecido.

O mau comportamento pode estar indicando a maneira encontrada pela criança de enfrentar as situações e o mundo como pode, por não saber o que os outros esperam dela, ou simplesmente para conseguir tudo o que desejam. Pode estar representando, também, uma forma de pedir ajuda ao adulto e de que eles estabeleçam normas. Muitas vezes, os pais satisfazem os filhos em todas as suas vontades para evitar conflitos e sofrimentos, porém acabam por prejudicar o desenvolvimento da capacidade de enfrentar dificuldades e suportar frustrações.

Segundo T. Berry Brazelton e Joshua D. Sparrow, é necessário estabelecer limites para que os filhos se sintam seguros. Acrescentam, ainda, que a disciplina é o segundo maior presente que os pais podem dar aos seus filhos. O amor, obviamente é o primeiro.

Os limites se fazem necessários para que a criança se sinta amada e segura. Não estabelecê-los equivale a deixá-la sozinha no mundo, sem rumo e indefesa. Os limites demarcam e estabelecem as normas de cada família, além de definir direitos e deveres. Oferecem à criança a oportunidade de distinguir o que é certo e o que é errado, revelam os valores dos pais e mostram o que eles esperam dos filhos.

Com a falta de tempo dos pais, os filhos iniciam desde cedo a inversão de valores, e aprendem o que deveriam aprender através dos pais, com a televisão, colegas, revistas e de muitas outras fontes não confiáveis. Muito se confunde o conceito de autoridade como algo construído sem respeito, sem integridade. Ao contrário do que se pensa, a autoridade é firmeza e persistência nas palavras. Sabe-se que é mais difícil para a criança conviver com a falta do “não” do que com a sua presença.

Torna-se fundamental construir a disciplina com amor. Em geral, os pais hesitam entre ser autoritários e tolerantes. A agressão física e verbal, os castigos muito severos e o autoritarismo não dão resultados positivos. Uma criança educada dessa forma pode acumular raiva e ressentimentos que prejudicam suas relações interpessoais e podem torná-lo um adulto inseguro, temeroso e, muitas vezes, violento.

Da mesma forma, ser totalmente complacente pode levar os filhos a se tornarem adultos dependentes, imaturos, pessoas que não toleram frustrações, que querem resultados imediatos, pouco persistentes na busca de seus objetivos, ou inconstantes em seus relacionamentos. Atitudes estremadas podem prejudicar o desenvolvimento da criança.

Clareza é a chave do sucesso. As crianças precisam de limites no momento que os pedem. Fica mais fácil para aprender e para crescer. Segundo Marcelo Cunha Bueno, a “agressividade infantil” é, muitas vezes, um pedido de socorro. Um pedido pela presença do adulto, um pedido que deve ter começado lá atrás, desde cedo, e que as famílias não souberam ou não quiseram ler. É preciso colocar limites nas ações dos adultos, pois eles são os únicos responsáveis pelas crianças que cuidam.

Portanto, é de fundamental importância encontrar e procurar um ponto de equilíbrio. Lembre-se: seja claro, estabeleça limites, admita o erro, dê o exemplo.