quarta-feira, 18 de maio de 2011

SAÚDE OU DOENÇA MENTAL


SAÚDE OU DOENÇA MENTAL

Por: Silvia Damini

Em vários momentos da vida, uma pessoa pode viver situações difíceis e de sofrimento intenso. Isso acontece em situações de muito estresse e, também, de uma desorganização pessoal. Muitas vezes, o indivíduo não percebe como possibilidade pedir ajuda e/ou resolver a situação. No entanto, a pessoa que procura ajuda, busca a superação desse sofrimento, a reorganização pessoal e, também, busca equilíbrio.

O estresse passou a ser responsável pelos males que nos afligem, principalmente aquele relacionado ao estilo de vida urbano atual. Para Bernik, o estresse é um problema econômico e social, de saúde pública, que implica em gastos para o individuo, para empresas e governos.

Para Doublet, a importância do conceito refere-se à sua relação com o adoecimento. Para Posen, o estresse é a causa mais comum de doenças, sendo responsável por aproximadamente 70% das consultas a médicos de família. Nota-se um crescimento de terapêuticas e de programas voltados para o controle do estresse. Além do interesse científico, cresceu o interesse econômico observado, por exemplo, na indústria farmacêutica, com medicamentos de combate ao estresse.

Porém, torna-se indispensável não patologizar o sofrimento, ou seja, enxergar doença em tudo. Pois, situações como estas todos podemos vivê-las e, por isso mesmo, o indivíduo precisa de apoio de sua famílias e de seus amigos. Além desse apoio, o indivíduo pode necessitar de psicoterapia como suporte e compreensão de fatores internos que lhe causam esse sofrimento, levando-o a uma organização pessoal em assuntos relacionados a si e ao mundo.

Alguns indivíduos que passam por esses sofrimentos continuam adaptados, respondem às expectativas sociais e cumprem suas responsabilidades. Contudo, pode-se encontrar pessoas que são consideradas desadaptadas, mas que não vivenciam nenhum sofrimento. Todavia, pessoas que estão em sofrimento agudo podem ser criativas o que nos faz não pensar só na doença, pois elas possuem potencialidades apesar das dificuldades.

Para abordar questões de doença mental é preciso considerar as condições de vida social e a trajetória específica do indivíduo e sua estrutura psíquica. As condições externas, a que uma pessoa é submetida, são determinantes/desencadeadoras da doença mental ou propiciadoras/promotoras de saúde mental, ou seja, é necessário haver possibilidades de realização pessoal do indivíduo em todos os aspectos de sua capacidade.

Normal e patológico são considerados padrões determinados de comportamento ou de funcionamento de um organismo sadio ou da personalidade adaptada. Segundo cada sociedade, o conceito de normal ou patológico é extremamente relativo, pois o que pode ser considerado normal, aceitável para uma pessoa, pode ser anormal para outra, e vice-versa. A questão de normalidade desvelada, a partir de um diagnóstico fornecido por um especialista, pode formar o destino de um indivíduo rotulado. Depois de uma internação, essa pessoa já fica rotulada. Isso deve ser questionado, pois especialistas no assunto, devido a cultura à que estão inseridos, tendem a patologizar aspectos de comportamento que caracterizam mais transgressões de condutas normais, que não são considerados desvios em outro momento histórico. Isso demonstra relatividade no conceito de normalidade.

Muitas vezes, existem divergências referentes ao diagnóstico, pois tanto chamam a atenção pela falta de coesão entre o diagnostico médico e o informado pelos portadores ou familiares, como pela pouca importância que é dada a este fato tão relevante para a pessoa que sofre transtorno mental. A família deve ser elemento participante e essencial, em todo o processo terapêutico e da equipe, como um conjunto de elementos inseridos em movimento da reforma, buscando oferecer uma assistência digna e respeitosa.

Mas se falamos em doença é preciso pensar em seu processo preventivo e curativo. A cura varia conforme o modelo do referencial utilizado. Já a prevenção implica em ações localizadas no meio social, inferindo em condições não promotoras de saúde mental, no sentido de evitar o sofrimento nas pessoas. Pensar nas pessoas como totalidade, ou seja, como ser biológico, psicológico e sociológico, bem como nas condições de vida propiciadoras de bem-estar físico, mental e social.

A representação social da doença é construída pela experiência com a enfermidade, traduzida em expressões de sofrimento, as quais necessitam ser organizadas em busca de sentido, dando a elas significados. É preciso que ocorram profundas mudanças na atenção psiquiátrica, propondo-se tratamentos éticos institucionais e comunitários, concomitantemente a deshospitalização.

Os processos de adoecimento dos transtornos mentais adquirem vida, fundamentalmente, na voz daqueles que compartilham a experiência de identificar, explicar e reagir à doença mental. Por isso, torna-se essencial reconhecer os múltiplos olhares em busca da compreensão da existência humana e das aflições que lhe acometem. A análise sobre o processo de saúde e da doença mental se torna mais completa à medida que reconhece as múltiplas e variadas perspectivas, e a interface estabelecida entre a psiquiatria, psicologia e outros serviços de saúde com a cultura são uma evidência da possibilidade infinita de diálogos e de negociações, em se tratando da percepção da vida e do discurso social.

A doença mental e emocional é um problema de saúde pública, pois muitas pessoas sofrem e são acometidas por essa enfermidade. Quando se fala em doença mental, a imagem que vem a cabeça é a de “louco”, que vive num mundo à parte, não fala coisa com coisa e costuma ter acesso de fúria só controlável por calmantes. É uma visão parcial e marcada pelo preconceito. Muitas pessoas são afetadas por esses problemas, mas pouquíssimas procuram ajuda, boa parte prefere esconder seu sofrimento, com medo de ser estigmatizada, e a maioria nem sequer desconfia de que seus sintomas são de uma doença mental.

A lei estadual nº 9.716 de 07/08/92 vem materializar a visão humanista, não pactuando com práticas de exclusão, de segregação. E uma delas é a exclusão dos “loucos”, jogado nos medievais manicômios. Pois, a internação, além de desconsiderar direitos individuais dos mais elementares, tem como conseqüências à degradação de pessoas, gerando um quadro crônico quase ou irreversível. O distúrbio mental, quase na totalidade dos casos, pode ser tratado sem a internação psiquiátrica, quando necessária pode ser no hospital geral.

A reforma psiquiátrica busca progressivamente a substituição dos leitos hospitalares psiquiátricos por rede de atenção integral em saúde mental, assistenciais de atenção sanitária e social: como ambulatórios, leitos de internação em hospitais gerais, hospitais dias ou noite, centros de convivência, centro de atenção psicossocial. É preciso, também, que as prefeituras formem Conselhos Comunitários de atenção aos que padecem de sofrimento psiquiátrico.

A proposta dos CAIS é da reforma sanitária, ou seja, tratar pessoas nos ambulatórios municipais de saúde, ou seja, uma política de atenção à saúde – exemplo – ambulatório de saúde. Já a proposta dos CAPS é de não falar em patologia, mas de todo o contexto social do indivíduo. É uma política de atenção à saúde mental, com destaque aos portadores de sofrimento psíquico.

Portanto, é preciso uma visão totalizante do social e a busca a explicitação de um compromisso político e social, priorizando as pessoas o acesso a serviços básicos de saúde e/ou saúde mental.

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